Em 1941, em plena Segunda Grande Guerra, eclodia no mercado cinematográfico do Rio de Janeiro, a Atlântida Cinematográfica, com negócios voltados exclusivamente para a produção, distribuição e exibição de filmes.
Na Atlântida, sobressaíram os profissionais do cinema Moacyr Fenelon, Luis Severiano Ribeiro, José Carlos Burle, Luis de Barros, Watson Macedo e entre outros veteranos o roteirista, montador, diretor e criador da comédia satírica brasileira, o parodista José Carlos Aranha Manga.
Vale destacar que, além do grupo de talentos oriundos dos palcos teatrais, decerto que o êxito alcançado pelo cinema nacional, nos primeiros anos pós-guerra, muito se deveu às emissoras de rádio que floresciam num ritmo acelerado, especialmente a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a Rádio Mayrink Veiga e a Rádio Tupi de São Paulo. Estavam elas providas de uma programação diversificada e enriquecidas de novelas, espetáculos humorísticos e de populares shows musicais de auditório. Desses programas radiofônicos também emergiram artistas de expressão que conquistaram um lugar no cinema. Os diretores da Atlântida, servindo de base os mesmos padrões radiofônicos de boa receptividade perante o público, decidem fazer filmes de preferência popular, explorando temas burlescos com chamamentos para o satírico, mesclados com cenas de ação, romance e músicas de carnaval, que marcaram época nos decênios de quarenta e cinquenta.
Do diretor Watson Macedo, filmes como "Aviso aos Navegantes"-1941, "Não Adianta Chorar"-1945, "Este Mundo é um Pandeiro"-1947, "O Mundo se Diverte"-1949, "É Fogo na Roupa"-1953, "O Petróleo è Nosso"-1954 etc. De Carlos Manga, "Dupla do Barulho"-1953, "Matar ou Correr"-1954, "Nem Sansão Nem Dalila"-1954, "De Vento em Popa"-1957,"O Homem do Sputnik" etc.
No elenco das esfuziantes produções da Atlântida, astros e estrelas desfilavam com grande talento, como:
José Lewgoy, Cyll Farney, Zezé Macedo, Oscarito, Grande Otelo, Neide Aparecida, Heloisa Helena, Renato Restier, Doris Monteiro, Jackson Flores, Ivon Cury, Eva Todor, Renata Fronzi, Virginia Lane, Angela Maria, Adelaide Chiozzo, Cesar de Alencar, Maria Antonieta Pons, Berta Loran, Blackout, Emilinha Borba, Dircinha Batista, Wilson Grey, Ankito, Zé Trindade e muitos outros.
Em 1949, o engenheiro italiano Franco Zampari associado com o industrial Francisco Matarazzo Sobrinho constitui uma famosa fábrica de fazer cinema, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, construída em São Bernardo do Campo, estado de São Paulo.
No quadro de acionistas da Vera Cruz, Francisco M. Sobrinho, como Presidente, Franco Zampari, na vice-presidência, Hernani Lopes diretor financeiro, Carlo Zampari superintendente e outros.
Estrangeiros e brasileiros formam uma equipe de profissionais de primeira, dentre muitos, o roteirista produtor, diretor e ator italiano Adolfo Celi, o diretor e produtor argentino Tom Payne, os diretores Luciano Salce, Lima Barreto, Fernando de Barros, Abílio Pereira de Almeida, o diretor geral de produção Alberto Cavalcante e ainda os fotógrafos Chick Fowle e Ray Sturges, os iluminadores Ronald Taylor e Oswald Kenemy.
Astros e estrelas da Vera Cruz: Anselmo Duarte, Alberto Ruschel, Milton Ribeiro, Amacio Mazzaropi, John Herbert, Adoniran Barbosa, Eva Vilma, Ruth de Sousa, Cacilda Becker, Rubens De Falco, Vanja Orico, Ilka Soares entre outros.
Em 1950 e 1952, as primeiras produções da Vera Cruz, Caiçara e TicoTico no Fubá ambas de Adolfo Celi, e a comédia com Mazzaropi Sai da Frente, de Abílio Pereira de Almeida. Em 1953, a Vera Cruz é conhecida internacionalmente com as produções Sinhá Moça, de Tom Payne, que recebeu o Prêmio Leão de São Marcos no Festival de Veneza e O Cangaceiro, de Lima Barreto, ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes de melhor filme de aventura e Menção Especial para a sua trilha sonora de Gabriel Migliori.
Ainda em 1953, Uma Pulga na Balança, com Paulo Autran, de Luciano Salce e Nadando em Dinheiro, de Abílio Pereira de Almeida, com Mazzaropi.
Lembro-me de um filme, que assisti no tempo do videocassete intitulado Floradas na Serra-1954, de Luciano Salce, com roteiro de Fabio Carpi e a admirável fotografia de Ray Sturges, uma das melhores produções brasileiras baseada no romance de Dinah Silveira de Queiroz , escrito em 1939.
Para consolidar a indústria do cinema nacional, em 1951, instalava-se no bairro de Jaçanã, em São Paulo, a Cinematográfica Maristela Ltda., criada por Mario Audrá Junior, filho de um milionário do ramo da indústria têxtil. Igualmente a Maristela contrata profissionais vindo do exterior. Os cameramen Juan Carlos Landini, David Altshuler, e Adolfo Paz Gonzalez, o engenheiro francês Jacques Lesgards e o iluminador e fotógrafo italiano Aldo Tonti, cujas habilidades em iluminação e fotografia são conhecidas em Roma Cittá Aperta-Roma Cidade Aberta; também o diretor de produção Mario Del Rio, os diretores Alex Viany, Alberto Pieralisi e Manuel Peluffo e Ruggero Jacobbi. Principais intérpretes: Procópio Ferreira, Mesquitinha, Hélio Souto, Tônia Carrero, Vera Nunes, Henriette Morineau e sua filha Antonietta Morineau, Orlando Vilar, Jaime Barcelos, Margot Bittencourt, Zilah Maria e Marilu Vasconcellos. Filmes: Presença de Anita-1951 e Suzana e o Presidente-1951, ambos de Ruggero Jacobbi, O Comprador de Fazendas-1951, de Alberto Pieralisi, baseado no conto de Monteiro Lobato (do livro Urupês), Simão, o Caolho-1952, de Alberto Cavalcante etc.
Aconteceu, porém, que nesta ocasião, algumas fábricas de entretenimento e cultura não sobreviveram por muito tempo, fato motivado por problemas de ordem econômica e financeira. Além do mais, chegavam às salas brasileiras, em grande quantidade, filmes europeus e principalmente americanos. O modelo estrangeiro açambarcava o mercado interno, e as companhias nacionais, sem bases sólidas para suportar a pressão, encerravam as atividades. Sabe-se que a Vera Cruz, depois de realizar sua última produção Floradas na Serra, fechou suas portas em 1954, a Maristela em 1957 e a Atlântida em 1962.
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